A partir de 1530 Portugal deu início de fato a
colonização do Brasil ocupando seu território
e organizando o governo para a colônia.
Para realmente povoar a terra e garantir a sua posse os portugueses
perceberam que era necessário desenvolver uma atividade econômica que
compensasse o empreendimento e que provocasse o cultivo permanente do solo. Por
várias razões os portugueses escolheram a produção de açúcar para garantir a
colonização. As primeiras mudas de cana de açúcar chegaram ao Brasil pelas mãos
de Martin Afonso por volta de 1533 e o primeiro engenho foi instalado na
capitania e São Vicente. Durante os séculos XVI e XVII o açúcar foi
o principal produto exportado pela colônia portuguesa na América. Ninguém no mundo produzia mais açúcar do que
Portugal.
A PRODUÇÃO
AÇUCAREIRA
Somente a partir de 1530 o governo Portugal tomou a
decisão de investir mais na colônia e tirar dela um lucro que ia muito além da
extração de pau-brasil. Além de motivações de ordem econômica, havia o fato de
o território estar sob constante ameaça de invasões estrangeiras. Nesse
contexto, o plantio de cana de açúcar para a produção açucareira se deve a
alguns motivos principais:
As condições naturais, especialmente
na região nordeste, eram favoráveis ao desenvolvimento da lavoura canavieira:
clima quente, chuvas, solo de massapê no litoral.
Os portugueses já tinham a experiência bem
sucedida com o cultivo de cana e produção de açúcar na Ilha da Madeira e no
arquipélago dos Açores.
A produção de açúcar, diferente da exploração
de pau-brasil, exigira dos portugueses a ocupação das terras já que o trabalho
deveria ser acompanhado de perto e por vários trabalhadores. Ocupar o
território, nesse caso, significava melhor protegê-lo.
Por fim, há outra razão, e fundamental, para os
portugueses terem escolhido o cultivo de cana de açúcar. O açúcar era um
produto de grande aceitação na Europa e com altíssimo valor comercial. Ou seja,
o açúcar possibilitava grandes lucros para a coroa portuguesa.
OS ENGENHOS
O cultivo da cana de açúcar na América portuguesa se
deu em muitas das imensas propriedades originadas das sesmarias, distribuídas
pelos capitães donatários e pelos governadores-gerais. Nessas grandes áreas,
chamadas de latifúndios, se estabeleciam os engenhos. Inicialmente engenho era o termo empregado
para designar a fábrica de açúcar, porém, mais tarde, passou a significar toda
a propriedade na qual o açúcar era produzido. O engenho, que em alguns casos chegava a ter perto de 5 mil moradores
(os maiores), era composto pela plantação de cana, pelas instalações para se
obter o açúcar e pelas residências de proprietários, colonos e trabalhadores.
Os proprietários dos engenhos ficaram conhecidos como senhores
do engenho.
A DIVISÃO DO ENGENHO
Normalmente um engenho estava dividido da seguinte maneira:
Casa grande: como era conhecida a casa do senhor
do engenho e de sua família. Era o centro administrativo dos engenhos. Os
empregados de confiança do senhor também se alojavam nas dependências da casa
grande; Casa dos trabalhadores livres: pequenas residências para os empregados do
engenho que não eram escravos. Habitavam estas casas os funcionários do engenho
como capatazes, operadores das máquinas do engenho e outros funcionários
especializados. Estes recebiam salários pelos serviços prestados e, geralmente,
eram brancos ou mulatos; Senzala: habitação dos escravos. Geralmente de paredes de barro e telhado de
sapé. Os escravos eram alojados de maneira bastante precária; Capela: local onde ocorriam as missas e
outros rituais religiosos (casamentos, batismos e etc.). De origem portuguesa,
a maioria dos senhores de engenho e sua família eram católicos. Em muitos
engenhos, os senhores obrigavam os escravos a assistirem as missas.
Canavial: correspondia
a cerca de 20% do engenho colonial. Era o espaço destinado ao plantio da
cana-de-açúcar; Casa de engenho: eram as instalações destinadas a produção de açúcar como a moenda (onde se moía a cana; podia
funcionar através da força gerada por bois, água (através de moinho) ou humana
(escravos) ), fornalhas (onde o caldo era fervido) casa de purgar (onde o açúcar era branqueado) e os galpões (onde os blocos de açúcar eram
quebrados em várias partes).
Plantações de subsistência: geralmente
cultivadas pelos trabalhadores livres, eram destinadas a produção de alimentos
para o consumo no engenho; Curral: local onde eram criados os animais usados no transporte de pessoas e
mercadorias. Haviam também os criados para se obter a carne, leite e ovos; Rio: geralmente os engenhos de açúcar
eram instalados em áreas próximas aos rios. Os rios eram de fundamental
importância para a irrigação dos canaviais e para a obtenção de água para o
consumo humano e animal.
Os
engenhos mais importantes possuíam moendas movidas pela força da água, que
podiam moer uma quantidade maior de cana e recebiam o nome de engenho
real. Os engenhos que utilizavam a força de bois e mulas eram menores e
mais baratos, conhecidos como trapiches.
Nem
sempre o senhor de engenho explorava diretamente todas as suas terras. As vezes
cedia parte delas a lavradores livres, que na maioria das vezes entregavam a
cana para moer no engenho do proprietário, que ficava com parte do açúcar
produzido. Montar e manter um engenho exigia elevados custos. Um engenho
simples poderia custar, convertido para a moeda atual, em torno de 250 e 300 mil
reais.
TRABALHADORES
ESPECIALIZADOS
Todas as
etapas da produção do açúcar dependiam de escravos. Mas também havia o trabalho
de homens livres que realizavam tarefas especializadas. FEITORES: escolhia
as terras para o plantio, o tipo de cana que seria utilizada e determinava o
melhor momento para o plantio e colheita. Os feitores também controlavam a
produção do caldo, o ritmo da produção, substituíam escravos quando necessário
e eram responsáveis pela manutenção de equipamentos; MESTRE DO AÇÚCAR: garantia
a qualidade do produto final acompanhando o cozimento do caldo e, por fim,
encaminhava para a purga; OUTROS TRABALHADORES: o purgador
era responsável pelo clareamento do açúcar. Na última etapa, o caixeiro
se responsabilizava pelo empacotamento e por retirar parte dos impostos que
deveriam ser entregues a coroa portuguesa.
SOCIEDADE
AÇUCAREIRA
Nos primeiros séculos da colonização
portuguesa na América a maior parte da população se concentrava no campo em
torno das grandes propriedades rurais ligadas à produção de açúcar, tabaco,
algodão e a pecuária. As grandes propriedades rurais tornavam-se ao mesmo tempo
núcleo social, administrativo e cultural. A sociedade do Brasil colonial foi
essencialmente agrária, marcada pela pouquíssima mobilidade social e se
desenvolveu principalmente na área litorânea do Nordeste brasileiro (regiões
produtoras de açúcar) entre os séculos XVI e XVII. A sociedade açucareira era
composta basicamente por três grupos sociais: senhores de engenho (aristocracia),
homens
livres e escravos.
Era uma sociedade dividida em
camadas bem definidas, sendo praticamente impossível que um trabalhador livre e
pobre chegasse algum dia a condição de senhor de engenho. Nesse período, haviam
poucos núcleos urbanos e somente o
litoral era povoado e conhecido pelos portugueses. Estima-se que no auge do
ciclo do açúcar, por volta de 1680, a população era de cerca de 300.000
pessoas, incluindo os indígenas livres.
Nessa população os escravos eram a grande maioria.
A parceria entre Portugal e Holanda
As
lavouras de cana foram introduzidas no Brasil a partir de 1533 na capitânia de
São Vicente e rapidamente se expandiu especialmente pela região nordeste onde o
solo era muito favorável para o plantio. O açúcar era um produto de grande
valor comercial e garantiu aos portugueses elevados lucros na Europa, porém,
produzi-lo era uma atividade complicada e que exigia altos investimentos
financeiros tanto para a compra de escravos que eram trazidos da África quanto
para a compra e manutenção de vários equipamentos dos engenhos. Na época a
coroa portuguesa estava com dificuldades financeiras e muitos proprietários de
terra não contavam com recursos suficientes.
A saída encontrada foi recorrer a
grandes investidores europeus, em especial a banqueiros e grandes comerciantes
holandeses que financiavam a instalação de engenhos. Dessa forma, os holandeses
tiveram grande participação na produção e também na venda do produto já que o
governo de Portugal, em troca do financiamento, entregou a Holanda o direito de
comercializar o açúcar na Europa. O “pacto
colonial” que os portugueses mantinham com o Brasil era quebrado pelos
holandeses que estavam autorizados a atracar nos portos do Brasil para comprar
o açúcar, transportá-lo, refiná-lo e distribuí-lo no mercado europeu. Essa
parceria entre Portugal e Holanda só foi interrompida com a União Ibérica.
O mercado colonial interno
Obviamente, a colônia não poderia
viver somente de açúcar. Embora a produção de açúcar tenha sido a base da
colonização portuguesa na América durante os séculos XVI e XVII, a produção de
fumo e de algodão e mais a criação de gado também tiveram importância. Devemos
lembrar que o governo de Portugal proibia a instalação de qualquer manufatura
(fábrica) na colônia.
Fumo e algodão: Tanto o fumo como o algodão eram produtos nativos da
América, ou seja, só se tornaram realmente conhecidos pelos europeus a partir
do século XVI. No Brasil, o fumo a grande área produtora de fumo ficava na
Bahia e a produção tinha como destino a Europa e também era usado como moeda de
troca por escravos na África. Já o algodão, produzido no M
aranhão, Bahia e Rio
de Janeiro só passou a ser exportado para a Europa a partir de 1760, antes
disso tinha pouca importância para a economia colonial.
Criação de gado e a produção
de alimentos:
Nas
grandes fazendas produtoras de açúcar o gado tinha grande importância por
moverem moendas e serem utilizado no transporte de pessoas e cargas. A criação
de gado teve grande importância para abastecer o mercado interno com a carne,
couro e leite. Como vamos ver, a pecuária vai ser de grande importância para a
expansão do território em direção ao interior, especialmente por não ser
vantajoso destinar áreas para pastagens onde pudesse se plantar cana. Pequenos
proprietários se dedicavam a agricultura de subsistência e a produzir gêneros
alimentícios. Além de produtos originários da terra a mandioca e o milho,
produziam também arroz, feijão, verduras, legumes e frutas.
A União Ibérica (1580 –
1640)
Em 1580 D. Henrique, rei de Portugal
morreu sem deixar herdeiros. Na disputa para ver quem iria ocupar o trono,
Filipe II, rei da Espanha e parente distante do falecido rei português, invadiu
e conquistou Portugal iniciando assim o período da União Ibérica, ou seja, o
período em que a Espanha dominou Portugal e em que administrou as colônias
portuguesas, entre elas o Brasil.
Sendo assim, entre 1580 e 1640,
era como se não existisse a linha do Tratado de Tordesilhas, já que todo
o território da América do Sul pertencia
a uma única coroa.
Na época o reinado de Filipe II
estendia-se aos Países Baixos (Holanda e Bélgica) e algumas províncias
holandesas, descontentes com o domínio católico e com a cobrança de pesados
tributos, entraram em guerra contra a Espanha lutando pela independência. Essa situação interferiu diretamente no
negócio açucareiro no Brasil uma vez que o governo espanhol, ao contrário do
governo português, proibiu o comércio dos holandeses com a colônia. Revoltados, os holandeses conquistaram territórios
do Nordeste (Bahia e Pernambuco). Os ataques ocorreram entre 1624 e 1630 e
foram promovidos pela Cia. das Índias Ocidentais que detinha o monopólio
do comércio na América e na África.
Os holandeses no nordeste do Brasil
Proibidos pelo governo espanhol de continuar
realizando comércio de produtos tropicais, principalmente o açúcar, os
holandeses se revoltaram e promoveram ataques contra áreas coloniais ibéricas.
A costa africana que era controlada pelos portugueses foi saqueada por
holandeses em 1595 e própria capital colonial do Brasil, Salvador, também foi
atacada em 1599.
Em 1621 comerciantes holandeses criaram a Companhia
das Índias Ocidentais, uma
empresa para manter comércio na América e que vai planejar a ocupação do
litoral do nordeste do Brasil. O primeiro ataque ocorreu em 1624, na Bahia, com o objetivo de
tomar a cidade de Salvador. A Espanha enviou uma esquadra de 50 navios e cerca
de 12 mil homens para expulsar os holandeses, o que ocorreu em 1625.
Em 1630 os holandeses atacaram o litoral pernambucano
e, apesar da resistência das tropas portuguesas e de proprietários locais,
conseguiram ocupar a região onde permaneceram por mais de vinte anos, até 1654.
A sede dos holandeses foi inicialmente na cidade de Olinda. Logo depois foi
transferida para Recife.
Após conquistarem Pernambuco os holandeses expandiram
seus domínios no nordeste de Alagoas até o Rio Grande do Norte. A presença dos estrangeiros inicialmente não
foi bem aceita pelos senhores de engenho que temiam perder suas propriedades. A
situação mudou quando perceberam que o interesse do governo holandês era
promover a produção e comércio do açúcar.
Os
holandeses promoveram grandes mudanças na vida colonial na região
nordeste. Novos hábitos e costumes foram
introduzidos e a religião calvinista ganhou espaço. A cidade de Recife teve
grande crescimento. Praças e pontes foram construídas, ruas foram calçadas e
vários artistas europeus registraram as paisagens da região. O principal governante dos holandeses no
período que dominaram a região nordeste foi Maurício
de Nassau.
MAURÍCIO DE NASSAU (1637-
1644)
As
guerras entre os colonos portugueses que tentaram resistir e impedir a ocupação
da região pelos holandeses prejudicou muito a produção de açúcar. Para
administrar a região conquistada e especialmente recuperar a produção
açucareira, a Companhia das Índias Ocidentais nomeou Maurício de Nassau para
ser o governador-geral do Brasil holandês.
Nassau
ganhou a confiança dos grandes proprietários concedendo empréstimos para
que engenhos fossem recuperados e ainda garantiu o abastecimento
de africanos escravizados para a região, já que a Holanda havia
conquistado Angola e São Tomé, na África. Além disso, garantiu a tolerância
religiosa e a religião calvinista ganhou espaço no nordeste holandês.
Deve ser
destacado que em 1640, durante o governo de Nassau, Portugal obteve de volta
sua autonomia diante da Espanha contando com importante apoio da Inglaterra e
da Holanda. O fim da União Ibérica vai provocar importantes mudanças. Apesar de
Portugal negociar a paz com os holandeses que ocupavam Pernambuco, logo tiveram
início os desentendimentos. As divergências entre os colonos portugueses e o
governo holandês ficaram evidentes após Nassau deixar a região em 1644.
A luta contra os holandeses:
INSURREIÇÃO PERNAMBUCANA
A boa relação entre colonos
portugueses e holandeses no nordeste foi abalada após Nassau deixar seu cargo e voltar para a Holanda, em
maio de 1644. Os novos administradores holandeses na região tinham outra
postura e para aumentar os lucros da Cia. das Índias Ocidentais pressionaram os
senhores de engenho a aumentar a produção de açúcar e a pagarem mais impostos.
Além disso, passaram a negar novos empréstimos aos colonos e a exigir que as
dívidas atrasadas fossem pagas em curto prazo. Os holandeses ameaçavam até
mesmo confiscar engenhos daqueles que não cumprissem as exigências.
Descontentes, colonos portugueses,
índios, africanos escravizados e proprietários de engenho se uniram para
expulsar os holandeses do nordeste na revolta que ficou conhecida como Insurreição
Pernambucana. Os combates
iniciaram em 1645 e se estenderam por nove anos. Recebendo apoio do governo de
Portugal, os luso-brasileiros obtiveram importantes vitórias nas Batalhas de
Guararapes em 1648 e 1649. Os holandeses se renderam somente em
1654 após sofrerem nova derrota na Batalha da Campina da Taborda. Após receberem uma indenização de 4 milhões de
cruzados, (moeda portuguesa na época) os
holandeses deixaram o Brasil. A paz entre Portugal e Holanda foi assinada em
1661.
A GUERRA DOS MASCATES
A queda do preço do açúcar, provocada especialmente
pela concorrência dos holandeses, vai provocar grande crise em Pernambuco, que
tinha Olinda como principal cidade e Recife como um grande povoado. Em Olinda viviam os senhores de engenho que
passavam por dificuldades devido a desvalorização do açúcar, mas que
controlavam a câmara municipal. Já em Recife, onde se localizava o porto,
viviam os grandes comerciantes, boa parte deles portugueses que progrediam
abastecendo Pernambuco com produtos manufaturados vindos da Europa e exportando
produtos coloniais.
Na época,
muitos senhores de Olinda pediam dinheiro emprestado aos comerciantes de
Recife, que abusavam da cobrança de altos juros. Essa situação vai gerar
desentendimentos e fazer crescer as diferenças entre esses dois grupos.
Olindenses passaram a chamar os comerciantes de Recife de mascates, que
por sua vez chamavam os endividados senhores de Olinda de pés-rapados.
Cada vez mais fortalecidos, os ricos comerciantes queriam mais poder ao povoado
de Recife, ou seja, que fosse erguida a condição de vila. Em 1710 o rei de
Portugal, D. João V atendeu ao desejo dos comerciantes provocando a revolta dos
senhores de Olinda que invadiram Recife. A luta ficou conhecida como Guerra dos Mascates. Em 1711 o governo português ordenou a
prisão e confisco das propriedades dos revoltosos. Para evitar novos conflitos
o governo também de ordem de que as dívidas dos senhores de engenho fossem
perdoadas.
A ESCRAVIDÃO
A escravidão marcou profundamente a história do
Brasil, último país das Américas a abolir o uso de mão de obra escrava. Vale
destacar que a origem da escravidão não tem ligação nenhuma com a cor da pele,
como equivocadamente podem pensar alguns.
O trabalho escravo existiu em muitas épocas e locais, desde a
antiguidade, como forma de obter mão de obra ou marcar a dominação dos povos
vencidos em combate. Sendo assim,
aqueles que eram derrotados durante as guerras eram feitos prisioneiros e
escravizados pelos vencedores.
Com a expansão comercial europeia e a colonização da
América a partir do século XV, tem início uma nova modalidade de escravidão. A
colonização do Brasil pelos portugueses vai depender, desde seu início e
especialmente pela produção de açúcar, do trabalho de escravos que eram
trazidos da África.
A escravidão na África
Até o século XV África era um
continente habitado por povos de diferentes etnias, alguns organizados em
aldeias, outros em reinos e Estados. A
escravidão era um importante elemento cultural e comum em muitos desses povos.
No geral os escravos eram prisioneiros de guerras que podiam envolver
diferentes povos, tribos e até famílias, ou então pessoas que não podiam pagar
suas dívidas.
Devemos mencionar que esse costume
existia entre os africanos antes mesmo da chegada dos europeus na África. Em
muitos casos a escravidão era hereditária, ou seja, o filho do escravo seria
escravo. Sobre alguns aspectos, a escravidão entre os africanos não era
exatamente igual a aquela que os portugueses instauraram na América, já que
muitas vezes o escravo não era propriedade de outra pessoa.
O tráfico de escravos
A chegada dos europeus, especialmente dos portugueses,
em vários pontos da África vai alterar muito a vida das sociedades
africanas. Na costa do continente
africano os portugueses vão implantar feitorias e controlar boa parte do
comércio, inclusive o comércio de seres humanos que logo se mostrou uma
atividade lucrativa. Inicialmente o
tráfico de escravos visava abastecer a necessidade de mão de obra na Europa,
porém, o crescimento da produção e do consumo de açúcar passou a exigir um
número cada vez maior de trabalhadores nos engenhos das colônias. Sendo assim,
a procura por escravos cresceu em grandes proporções e milhões de africanos
foram escravizados. O comércio de escravos foi disputado por portugueses,
holandeses, franceses e ingleses. Dos países que colonizaram a América, a
Espanha foi o país que menos utilizou mão de obra de escravos vindos da
África.
Em troca de ouro, marfim e escravos os portugueses
para ofereciam aos chefes de aldeias ou reinos africanos tecidos, tabaco,
metais, ferramentas, açúcar, animais e armas. Em alguns casos os europeus
atacavam aldeias capturando homens, mulheres e crianças e também usaram da
estratégia de incentivar conflitos entre os povos africanos que vendiam prisioneiros
de guerra como escravos. Acorrentados, os cativos eram embarcados e aguardavam
para iniciar a perigosa travessia até a América. A viagem se dava em péssimas condições nos
navios negreiros, chamados tumbeiros, e duravam até dois meses. Era alto o índice de mortalidade
Escravidão
indígena e africana
Ao longo dos séculos em que a escravidão marcou de
forma cruel a história do Brasil tanto indígenas quanto africanos foram escravizados
e o uso de mão de obra escrava sempre foi uma importante característica da
economia. Diversos produtos tropicais produzidos ou explorados durante o
período colonial, ou mesmo depois, durante o Império quando o Brasil já era
independente, dependeram fundamentalmente do trabalho escravo.
Inicialmente escravizar indígenas se mostrou uma solução mais barata para os colonizadores, mesmo assim, por várias razões, os portugueses fizeram mais uso de escravos africanos do que escravos indígenas. Em primeira lugar, os nativos não se adaptavam ao trabalho na lavoura de cana de açúcar e a população indígena já estava bastante reduzida devido a epidemias e guerras de extermínio. Além disso, os indígenas tinham maior facilidade nas fugas por conhecerem o território e contavam com a proteção dos padres jesuítas e de setores Igreja Católica, contrários a escravização de indígenas por entenderem que os mesmos eram “livres de pecados” e que deveriam ser convertidos ao catolicismo. Para evitar conflito com a igreja em várias ocasiões o governo de Portugal chegou até mesmo a proibir que indígenas fossem escravizados.
Por outro lado, os africanos já tinham experiência no
cultivo de cana de açúcar, tinham uma cultura mais semelhante a dos europeus e
conheciam a metalurgia e a criação de gado, atividades importantes para a
produção açucareira. Sendo assim, a produtividade do trabalho dos africanos era
maior do que a dos indígenas. Podemos considerar ainda que o comércio de homens
e mulheres trazidos da África era muito lucrativo e incentivado pela coroa
portuguesa.Inicialmente escravizar indígenas se mostrou uma solução mais barata para os colonizadores, mesmo assim, por várias razões, os portugueses fizeram mais uso de escravos africanos do que escravos indígenas. Em primeira lugar, os nativos não se adaptavam ao trabalho na lavoura de cana de açúcar e a população indígena já estava bastante reduzida devido a epidemias e guerras de extermínio. Além disso, os indígenas tinham maior facilidade nas fugas por conhecerem o território e contavam com a proteção dos padres jesuítas e de setores Igreja Católica, contrários a escravização de indígenas por entenderem que os mesmos eram “livres de pecados” e que deveriam ser convertidos ao catolicismo. Para evitar conflito com a igreja em várias ocasiões o governo de Portugal chegou até mesmo a proibir que indígenas fossem escravizados.
Trabalho e
cotidiano
Os escravos trabalhavam em média 12 horas por dia realizando
diversas atividades e em condições extremamente duras, tanto nos canaviais,
moendas e caldeiras, quanto na criação de animais, metalurgia, construção de
estradas e em serviços mais domésticos, na casa-grande. Nas áreas urbanas
executavam trabalhos de marcenaria, construção, transporte, limpeza urbana,
carregadores de mercadorias, etc. Além do trabalho forçado, o cotidiano de um
escravo era marcado profundamente pela violência física e cultural. A retirada
forçada da terra natal, castigos frequentes, alimentação e habitações precárias
e a desintegração das famílias somavam-se ao fato de serem muitas
vezes proibidos de manter suas tradições religiosas e até mesmo de falarem a
língua nativa.
Nas senzalas, as condições em que viviam os escravos eram as
piores possíveis. Normalmente eram erguidas próximas a casa-grande para que os
escravos pudessem ser melhor observados pelo senhor. A construção era rústica,
feitas de madeira, barro e coberta normalmente com palha. O espaço nas senzalas
era pequeno, muitas não possuíam janelas e o piso era de chão-batido o que
tornava as condições de vida ainda mais precárias. Homens e mulheres solteiros
viviam em senzalas separadas e em algumas propriedades o senhor permitia que os
casados construíssem barracos isolados. Para evitar fugas,
geralmente as senzalas eram trancadas a noite e nesse sentido a moradia era
também prisão.
A alimentação dos escravos variou conforme a região da
colônia ou época e consistia naquilo que era estritamente necessário para que
os escravos não se enfraquecessem demais e pudessem estar em condições para o
trabalho pesado. Arroz, feijão, mandioca, milho, legumes e verduras
que eles próprios produziam, e, em alguns casos, o charque (carne
seca), e frutas eram a base da alimentação. Era comum o senhor dar aos escravos
sobras de alimento, especialmente carne.
Castigos e
resistência
Dentre
algumas características da escravidão no Brasil o senhor tinha o direito de
castigar fisicamente o escravo. No geral, esses castigos, que foram os mais variados possíveis, visavam
manter os escravos obedientes e temerosos. Como castigos mais comuns citamos:
Açoite - chicote feito de cinco tiras de couro retorcido com nós; era
utilizado para punir pequenas faltas ou acelerar o ritmo de trabalho; Tronco
- foi nome dado a um instrumento de tortura e humilhação, usado em vários
países, os escravos permaneciam presos indefesos aos ataques de insetos e
ratos, com contato com sua urina e fezes isolado num barracão até o seu senhor
resolver soltá-lo; O cepo - tronco grosso de madeira que o escravo
carrega à cabeça preso por uma longa corrente e uma argola que trazia no
tornozelo; Mascara de flandres - usado para punição de furto de
alimentos, alcoolismo, ingestão de terra. As mascaras podiam cobrir todo o
rosto ou só a boca; Nas cidades, os castigos de açoites eram feitos
publicamente, nos pelourinhos.
Os escravos procuraram lutar
contra a condição de escravo de diversas maneiras. Usando de meios pacíficos e
violentos, os africanos resistiam à crueldade da escravidão procurando manter a
sua condição humana e preservar sua cultura.
Nenhuma forma de resistência foi mais significativa do que a fuga. Afinal, ela representava o fim das agressões
físicas, do trabalho forçado e a reconquista da liberdade.
Muitos escravos que conseguiam
fugir e escapar da perseguição dos capitães do mato reuniam-se em comunidades que
se organizavam no meio das matas e que eram chamadas de quilombos. Existiram
vários quilombos durante o período da escravidão. No período colonial, a maior
parte deles organizou-se na região Nordeste. Os quilombos eram aldeias de
escravos fugitivos que, vivendo em comunidade, resgatavam parte de suas
tradições, falavam sua própria língua e praticavam sua religião. Os habitantes
dos quilombos eram chamados de quilombolas.
Nos quilombos cultivam seu
próprio alimento, mantinham oficinas onde produziam roupas e ferramentas e
criavam animais. A maior parte dos quilombos foram destruídos por expedições
enviadas por senhores de engenho e pelo governo, porém, outros conseguiram
resistir por décadas. Na região onde
atualmente se encontram os estados de Alagoas e Pernambuco estiveram unidos
cerca de dez quilombos, conhecidos como Palmares. No ano de 1671, estimasse que Palmares chegou
a ter entre 25 e 30 mil habitantes. Seu líder mais importante foi Zumbi.
Professor, em primeiro lugar, parabéns pelo seu trabalho. Esse é um material muito bom para nossa prática.
ResponderExcluirEu gostaria de saber as fontes de algumas ilustrações que você usa, que são novas, feitas em 3d e muito didáticas. Me refiro às que estão na seção "A divisão do engenho". Já encontrei algumas vezes na internet, mas não conheço a autoria. Muito obrigado.