O iluminismo
foi um movimento cultural dos séculos XVII e XVIII que combateu a estrutura do
Antigo Regime, ou seja, o absolutismo, o mercantilismo e os valores da Igreja
Católica. Esteve muito ligado aos
interesses da burguesia e apresentou o uso da razão como principio básico para
modificar a estrutura política, econômica e social. Defendia a liberdade, a
igualdade e a individualidade como meio de terminar com as injustiças da época.
O
desenvolvimento do comércio e a exploração das colônias fundadas fora da Europa
provocaram inúmeras mudanças na economia e contribuíram para o fortalecimento
de uma importante classe social, a burguesa. Com o passar do tempo, os
interesses da burguesia foram se alterando e as transformações notadas na
economia e na sociedade passaram a exigir também uma transformação cultural, ou
seja, na forma de pensar e agir. Durante o século XVIII, chamado por alguns
estudiosos de o Século das Luzes,
foram se consolidando as ideias e as teorias que seriam usadas para combater o
sistema político, econômico e social que vigorava em praticamente toda a
Europa.
Assim, o Iluminismo,[1]
como foi chamado esse movimento que propunha um novo pensamento, abriu o
caminho e serviu de base para as diversas revoluções que passaram a combater a
estrutura do Antigo Regime. O modo como o governo absolutista e a igreja interferiam
na sociedade e na economia, impedindo as ações individuais, não agradava a
burguesia já que sua principal atividade, o comércio, era duramente
prejudicada. Sabendo da importância que tinham, os burgueses passaram a lutar
por seus interesses criticando a estrutura do Antigo Regime e exigindo o fim
dos privilégios da nobreza e do clero.
É comum haver uma relação, muitas vezes
equivocada, entre Iluminismo e Renascimento. Podemos até dizer que o Iluminismo
foi uma continuação do processo de mudanças no pensamento iniciado no século
XIV no movimento que ficou conhecido como Renascimento. Porém, semelhante entre
eles há apenas o fato de apresentarem a proposta de laicização, ou seja, a separação
entre o ensino religioso e ensino racional, crítico e científico. No mais, além
da diferença de período em que ocorrem, o Renascimento foi caracterizado por
elementos artísticos como a escultura, a pintura, a música e a literatura. Assim,
ao contrário do Iluminismo, o Renascimento não foi um movimento de ruptura já
que não apresentou teorias políticas, econômicas e sociais.
Para
eliminar a desigualdade social, o preconceito e a ignorância, os iluministas,
que chamavam a si mesmo de filósofos, defendiam ou tinham como principais
valores a igualdade nas relações
políticas e sociais, a liberdade econômica
e de se expressar e a tolerância
religiosa. Defendendo a renovação da sociedade e do Estado, o Iluminismo
estava também, de alguma maneira, ligado ao desenvolvimento do comércio e ao
espírito individualista da burguesia.
A estrutura do Antigo Regime:
O termo Antigo
Regime é utilizado para fazer referência a um conjunto de características
sociais, políticas, econômicas e culturais dos principais países europeus entre
os séculos XVI e XVII. Entre essas
características devemos citar:
- o poder
absoluto do rei: os governantes concentravam todo o poder em suas
mãos. Elaboravam leis, criavam impostos, controlavam exércitos e faziam a
justiça. Além disso, o rei protegia e mantinha os privilégios da nobreza.
- o poder
incontestável da igreja: a igreja controlava
o conhecimento e impedia que as pessoas elaborassem suas próprias ideias. Além
disso, continuava vendo o lucro como algo negativo e afirmando que a verdade só
poderia ser encontrada pela fé.
- a sociedade
estamental: a sociedade estava dividida em
rígidas classes (clero, nobreza, povo). Praticamente não existia possibilidade
de mudança social. A maioria da população era prejudicada em função da minoria
e assim existia uma sociedade onde poucos tinham muito e muitos tinham pouco.
- as
práticas mercantilistas: o governo
absolutista interferia na economia impedindo a livre iniciativa e concorrência.
Os Estados procuravam manter uma balança comercial favorável, reforçar o
sistema colonial o monopólio comercial.
Precursores
do Iluminismo
Muitos
dos iluministas do século XVIII buscaram inspiração no racionalismo[2] empregado por pensadores europeus do
século XVII. Nomes como René Descartes, Isaac Newton e John Locke, foram
responsáveis pela chamada Revolução
Científica[3]
do século XVII e podem ser destacados como precursores do iluminismo.
René Descartes |
René
Descartes (1596-1650): é
considerado um dos principais fundadores do racionalismo. Defende a ideia de
que a dúvida é o primeiro passo no processo de construção do conhecimento. Sua
frase, “Penso, logo existo”, resume bem sua teoria de que o
conhecimento só pode ser adquirido através da razão. Para Descartes, só existe
aquilo pode ser comprovado através do pensamento racional.
Isaac
Newton (1642-1727): Assim
como Descartes, substituiu a religião pela ciência. Fez várias descobertas no
campo da matemática, física e na astronomia. Descobriu leis aplicáveis ao
universo como a lei da gravidade. Para Newton, a função da ciência era
descobrir leis e formulá-las de modo racional.
John Locke |
John Locke
(1632-1704): Por
ter lançado a base do pensamento iluminista, principalmente no que diz respeito
às leis da sociedade, o inglês John Locke é considerado por muitos como o pai do iluminismo. Apesar de ter se
destacado por afirmar que a mente humana é uma tabula rasa e que, portanto,
todo conhecimento que adquirimos é resultado da experiência e do uso da razão, Locke
ficou marcado por ser o primeiro a atacar o absolutismo monárquico e defender
as liberdades individuais. Afirmava
que os direitos à vida, à liberdade e a propriedade eram direitos invioláveis e
naturais dos homens. Para preservar esses direitos os homens criaram o governo,
que só existe, portanto, devido o consentimento da maioria. Sendo assim, para
Locke, o governo que fizesse mau uso do poder ou não respeitasse os direitos do
homem, poderia ser por direito derrubado pelo povo. Locke tornou-se um importante nome do liberalismo político.[4]
Com suas posições políticas combateu o absolutismo na Inglaterra e teve
importante participação na Revolução
Gloriosa. [5]
O Iluminismo na economia
Os
valores aplicados à vida social e política serviram também para a construção de
novas teorias econômicas. Podemos destacar no plano econômico duas escolas que se desenvolveram: a escola fisiocrata, fundada pelo economista e médico
francês, François Quesnay, e a escola liberalismo
econômico, fundada pelo escocês Adam Smith.
François Quesnay (1694 – 1774): era um antimercantilista, isto é, contrário a
intervenção do Estado na economia. Para os fisiocratas o Estado tinha apenas a
função de garantir a liberdade e não o direito de controlar a economia
estabelecendo regras para a circulação de mercadorias e para o consumo. Quesnay
defendia as atividades agrícolas como sendo as únicas capazes de gerar riquezas
para uma nação. Assim, a origem da riqueza estaria na terra.
LIBERALISMO ECONÔMICO
Adam
Smith condenava a intervenção do Estado na economia, mas ao contrário dos
fisiocratas, não acreditava que a agricultura fosse a origem da riqueza e
afirmava que a verdadeira fonte de riqueza era o trabalho. Smith defendia o
livre comércio e assim, portanto, lutava contra as práticas mercantilistas
impostas pelo governo e que impediam o desenvolvimento do capitalismo. Para
Smith, o mercado deveria ser regulado pela lei de oferta e procura, pela livre
iniciativa e pela concorrência. O lema dos iluministas para a economia era o
seguinte: "laissez faire, laissez aller, laissez passer" - "deixai fazer, deixai ir, deixai passar".
OS GRANDES
PENSADORES DO ILUMINISMO:
Além
de proporem uma reforma nas relações econômicas, os iluministas empenharam-se
para modificar as relações políticas e sociais e acabar assim com os
privilégios do clero e da nobreza. Apesar de divergirem em muitos aspectos, os
iluministas concordavam em um ponto fundamental: a crença na razão como
instrumento para se compreender, criticar e modificar todos os setores da
sociedade.
Montesquieu (1694 –
1755)
“É preciso que o poder limite o poder.”
obra,
faz elogios a monarquia constitucional da Inglaterra e defende a ideia de que
os poderes, concentrados na pessoa do rei durante o Antigo Regime, sejam
divididos em três: Legislativo,
Executivo e Judiciário. Com a teoria
dos três poderes ou da separação dos
poderes, como ficou conhecida, Montesquieu pretendia principalmente inibir
o abuso dos governantes.
De
modo geral, a proposta central da teoria é de que um poder tenha ao mesmo tempo
autonomia, isto é, liberdade para tomar suas decisões, mas que possa intervir
quando necessário no outro. Desse modo, na prática, nenhum dos três poderes vai
ter controle
total sobre a sociedade já que um poder regula o outro.
Para Montesquieu,
que elaborou sua teoria na lógica de um regime monárquico, o executivo seria
exercido pelo rei, com poder de convocar o legislativo e também de vetar as
decisões tomadas pelo legislativo. Já o legislativo era composto por pessoas do
povo que representavam as diferentes classes sociais e por nobres. Esses
formavam assembleias com o objetivo de elaborar e propor as leis que
conduziriam o governo e fiscalizar o executivo. Por fim, o poder judiciário
teria o compromisso de interpretar e julgar os abusos.
O trabalho de Montesquieu inspirou a
criação da constituição dos Estados Unidos e hoje, apesar de diferenças que existem
de acordo com o regime de governo adotado, todo estado definido como
democrático ou não ditatorial está organizado na ideia da divisão dos três
poderes.
Voltaire (1694 – 1778)
“Posso não
concordar com nenhuma das palavras que você diz, mas defenderei até a morte o
direito de você dizê-las.”
Por causa de suas ideias, o filósofo e escritor francês chegou a ser preso duas vezes, Na segunda delas foi lhe dada a oportunidade de sair da França. Antes de voltar ao seu país viveu três anos na Inglaterra. Voltaire, assim como outros pensadores de sua época, era um crítico do absolutismo dos reis e favorável a cobrança justa dos impostos e fim dos privilégios da nobreza e do clero, mas não um defensor que o poder fosse entregue ao povo.
Não era um democrata, mas era favorável a uma monarquia que respeitasse as liberdades individuais, que estabelecesse leis para limitar o poder do governo e que tivesse como governante um esclarecido, ou seja, que fosse aconselhado por pensadores iluministas e aceitasse as ideias do movimento.
“O homem é
bom por natureza. É a sociedade que o corrompe.”
Rousseau
teve clara inspiração nas ideias de Locke e, por apresentar teorias diferentes
dos demais filósofos, é considerado por muitos estudiosos como sendo o mais
radical entre os pensadores iluministas. Ele desenvolveu a teoria do bom selvagem. Para Rousseau, inicialmente os seres
humanos viviam em estado natural onde praticamente não existiam conflitos e
todos eram iguais pelo fato de não haver propriedade privada. Para esse
pensador os problemas sociais tiveram início no momento em que algumas pessoas
passaram a possuir terras e a ter dominação sobre aquelas que não possuíam.
Para solucionar ou amenizar os problemas que se originavam pela desigualdade
social e para garantir a ordem e os direitos individuais, os homens concordaram
em aceitar a figura de uma liderança e a se submeter à vontade da maioria.
Dessa forma, teria nascido o Estado,
ou seja, o governo.
A
partir disso Rousseau defendeu, em sua principal obra, O Contrato Social, o
pensamento de que o povo é soberano é deve prevalecer a vontade da maioria.
Desse modo, o povo teria o direito de derrubar qualquer governo que não
respeite a vontade da maioria ou viole o direito da liberdade. Segundo ele,
somente dessa forma haveria igualdade, ou seja, com um contrato estabelecido
entre o povo e o governante.
A enciclopédia; a
educação para os iluministas; os déspotas esclarecidos
Em 1751 foi publicada na França uma Enciclopédia composta por 35 volumes que tinha como objetivo reunir todo o conhecimento acumulado pela humanidade e expor as principais ideias dos pensadores iluministas. Os organizadores dessa obra foram Diderot e D’Alembert, que ficaram conhecidos como enciclopedistas. A obra contou com a colaboração de vários filósofos e foi apontada como “perigosa” pelas autoridades.
Para
a educação os iluministas defendiam uma grande reforma. Durante toda a Idade
Média e também no período do Antigo Regime, o conhecimento e o ensino foi
controlado pela igreja e era privilégio da minoria. De modo geral, o movimento
iluminista defendia três pontos básicos:
- educação laica: o ensino deve ser independente da
religião, ou seja, não pode ser determinado por nenhuma religião.
- educação obrigatória e gratuita: a
educação deve ser mantida pelo Estado e não pode privilegiar nenhuma classe.
- ensino científico: as escolas devem priorizar o
estudo das ciências, dos ofícios e das técnicas, atendendo assim, as
necessidades da nova sociedade e promovidas pela Revolução Industrial.
A partir da segunda metade do século
XVIII alguns governantes da Europa passaram a conduzir o Estado levando em
consideração alguns dos princípios defendidos pelos iluministas, esses
governantes ficaram conhecidos como déspotas esclarecidos. Procurando muito
mais evitar revoltas sociais do que realmente promover mudanças significativas
na política, na sociedade e na economia, alguns governantes realizaram
importantes reformas em seus reinos. Aos poucos foram liberadas forças que mais
tarde revelaram-se incontroláveis. Entre
os principais déspotas esclarecidos podemos citar: Frederico II (Prússia),
Catarina II (Rússia), José II (Áustria), José I (Portugal).
Questões
1) Com suas palavras, defina o que foi o Iluminismo.
2) Qual a relação que pode ser feita entre o Renascimento e
o Iluminismo? Explique.
3) Quais eram os principais aspectos do Antigo Regime que eram
criticados pelos pensadores iluministas e pela burguesia? Com suas palavras,
explique cada um deles.
4) Quais eram as principais críticas que os iluministas
faziam ao modelo de governo e de sociedade do Antigo Regime?
5) De maneira geral, quais eram as principais propostas e
valores defendidos pelos iluministas para combater a estrutura do Antigo
Regime?
6) Por que os podemos associar o Iluminismo aos interesses
da burguesia?
7) Explique a afirmação de René Descartes: “Penso, logo existo.”
8) Qual o pensamento defendido pelo inglês John Locke para
as relações políticas?
9) Adam Smith é considerado o “pai do liberalismo
econômico”. Com suas palavras, explique a teoria elaborada por esse importante
pensador iluminista.
10) Entre tantos, Montesquieu foi seguramente um dos mais
importantes pensadores iluministas. Qual foi e o que dizia a teoria
desenvolvida por ele? O que ele pretendia com o seu pensamento?
11) Voltaire e Rousseau foram representantes importantes do
iluminismo por proporem mudanças nas relações sociais e políticas da época.
Qual era o pensamento defendido por cada um desses pensadores?
12) Quais eram as ideias que os iluministas defendiam para a
educação?
13) Com suas palavras,
explique o que foi o despotismo esclarecido.
[1] O nome iluminismo surgiu da ideia de que a Europa
ainda vivia em um período de trevas que caracterizou a Idade Média, quando a
Igreja tinha total controle sobre a cultura e a sociedade. Segundo os
iluministas, somente o uso da razão poderia devolver a luz, “iluminar” á
sociedade.
[2] Corresponde a crença de que a razão é a única fonte do conhecimento.
[3] Movimento intelectual que defendia o uso da razão, da observação e da experimentação como meios para compreender o universo e o homem.
[4] Liberalismo pode ser definido como a doutrina que defende a liberdade individual no campo da política, da economia, da moral, da religião. No movimento iluminista o liberalismo teve destaque especial nos campos político e econômico.
[5] Foi a revolução comandada pela burguesia na Inglaterra entre 1688 e 1689. Através dela se instituiu a Monarquia Parlamentar.
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