A crise do feudalismo, o fortalecimento do comércio e das cidades, a
consolidação das monarquias nacionais e a conquista da América[1], provocaram
profundas mudanças na economia, na política e na sociedade. Acompanhando essa
nova realidade, os valores e as ideias que caracterizavam o pensamento medieval
também foram sendo, lentamente, substituídos. Todas essas mudanças foram
aceleradas pelo Renascimento, movimento intelectual e cultural que teve como
uma de suas principais marcas a valorização do ser humano e a utilização da
razão para pensar e agir sobre o mundo. O Renascimento marca a passagem do mundo medieval para o mundo moderno.
Nessa passagem, as artes, a
filosofia e as ciências sentiram diretamente os efeitos da nova maneira de
pensar. O termo renascimento foi criado
pelos próprios artistas, escritores e cientistas da época. Essas pessoas pretendiam
fazer renascer a cultura e resgatar os conhecimentos desenvolvidos pelos povos
da antiguidade e que haviam sido esquecidos durante a Idade Média, conhecida, a
partir desse momento, como “Idade das Trevas”. Isso não significou, entretanto,
que o movimento renascentista tivesse o objetivo de retornar a antiguidade. [2]
Os valores do Renascimento
Durante a Idade Média as
pessoas viviam presas a sua posição social, preocupadas mais com a vida após a
morte do que com a vida terrena, acreditando que a Terra era plana e que todos
os acontecimentos e fenômenos eram determinados pela vontade de Deus. Com o
Renascimento, essas “crenças” passaram a ser questionadas e foi surgindo um ser
humano mais confiante em suas possibilidades e que deixou de querer explicar e
entender tudo pela fé e vontade divina. Para
substituir os valores dominantes da Idade Média, os renascentistas, ou
humanistas, como também eram chamados, formularam três novos valores: Humanismo,
Racionalismo e Individualismo.
Humanismo: em vez de um mundo teocêntrico, isto é, onde Deus está no centro e onde tudo que acontece é relacionado as suas vontades, os renascentistas defendiam o pensamento de que era preciso construir um mundo em que o homem estivesse no centro (antropocentrismo) e pudesse olhar para si mesmo como sendo responsável por sua própria vida.
Racionalismo: uma das principais marcas do Renascimento foi
a valorização da razão. Ao invés da fé para explicar o mundo, os renascentistas
afirmavam que o uso da razão seria a única alternativa para se alcançar a
verdade. Para isso, pretendiam modificar o ensino dado pelas universidades
medievais, onde até então, predominavam os valores da Igreja Católica. O
Racionalismo foi empregado principalmente pelas ciências. Os métodos
experimentais e a observação da natureza se tornaram critérios obrigatórios
para os cientistas modernos.
Individualismo:
para os renascentistas, o homem
deveria passar por uma grande mudança de comportamento. As diferenças
individuais dos homens deveriam ser reconhecidas e respeitadas. Esse valor está
intimamente associado ao espírito de competição da burguesia.
O movimento renascentista pode ser melhor
compreendido se compararmos os valores que predominavam na Idade Média com os
valores que passaram a predominar na Idade Moderna.
A nova realidade
O Renascimento teve início nas cidades italianas no século XV e
espalhou-se pela Europa no século XVI. [3] Embora
tenham se adequado as particularidades de cada região, as novas ideias e atitudes foram inspiradas pelas mudanças sociais que
passaram a ocorrer em todo o continente. Assim, o aumento da população, o
desenvolvimento das cidades e o fortalecimento da burguesia, foram fundamentais
para a expansão do pensamento humanista.
Desenvolvimento e crescimento das cidades e do comércio: o Renascimento foi um movimento essencialmente
urbano. O comércio movimentado das cidades estimulava a competitividade entre
os burgueses, que, por sua vez, valorizavam a razão e defendiam o
individualismo. Para os burgueses, ser individualista significava concorrer de
forma livre no comércio, poder escolher sua forma de pensar e estar livre da
influência da Igreja Católica.
A ação dos mecenas: O trabalho de artistas e pensadores do renascimento dependeu do apoio
financeiro que receberam dos mecenas, homens ricos que estavam interessados no
desenvolvimento cultural. Eram os mecenas, na maioria das vezes burgueses, que
financiavam a construção de igrejas e de edifícios públicos.
Desenvolvimento da imprensa: A imprensa foi desenvolvida pelo alemão Johann Gutenberg e foi uma das maiores inovações técnicas do período, já que até então, a única forma de reproduzir livros era copiando-os a mão. Dessa forma, a imprensa foi fundamental para a divulgação do novo pensamento na medida em que facilitou a impressão de livros, de textos e de panfletos em uma escala muito maior e permitiu uma mais rápida divulgação dos valores humanistas do Renascimento.
As expressões do Renascimento
Renascimento artístico e cultural
Os valores do Renascimento foram
decisivos para as mudanças culturais que passaram a ocorrer. O espírito
crítico, defendido pelo racionalismo, despertou o desenvolvimento do conhecimento
científico. Da mesma forma a valorização do ser humano representou para a
literatura, para a filosofia e para as artes plásticas uma verdadeira
revolução.
Artes plásticas e Literatura
Com o Renascimento a produção artística e intelectual foi se afastando
da religiosidade e da forte influência da Igreja Católica. Tanto as artes plásticas
como a literatura passaram a acompanhar as ideias humanistas do período. Assim,
além de aspectos religiosos, artistas e escritores passaram a se interessar e
explorar outras questões da sociedade dando maior destaque para o
indivíduo. As principais expressões artísticas
do Renascimento foram a pintura, a escultura e a arquitetura. De maneira geral,
inspirando-se na Antiguidade, principalmente em modelos clássicos de gregos e
romanos, os renascentistas procuravam substituir a fé e os valores feudais que
caracterizavam as obras medievais pelo espírito humanista, produzindo assim,
obras mais próximas a realidade.
Os pintores aperfeiçoaram a técnica da perspectiva, permitindo dar uma sensação de profundidade, a pintura a óleo, criando cores mais vivas e atraentes, e desenvolveram técnicas de pintura, como o jogo de luz e sombra que dava expressão aos objetos e seres em cena. Com isso, cenas do cotidiano e paisagens naturais, ignoradas pelos artistas medievais, passaram a ser representadas. O corpo humano, antes esquecido ou escondido, foi valorizado na escultura e na pintura. Na arquitetura, ocorre o rompimento com o estilo gótico[4] e na construção de palácios e igrejas foram retomadas as linhas retas, as colunas e arcos que caracterizavam a arquitetura greco-romana. Nas artes devemos destacar: Leonardo Da Vinci , Sandro Botticelli, Rafael Sanzio, e Michelangelo.
O humanismo e o racionalismo significaram grandes mudanças também na literatura. Inspirados em Homero e Platão, por exemplo, vários escritores procuraram recuperar o estilo da Antiguidade Clássica. O aperfeiçoamento da imprensa, que permitiu a impressão de muitas páginas em pouco tempo, teve grande importância para a divulgação das obras. Entre os principais escritores podemos citar: Thomas Morus, William Shakespeare, Erasmo de Roterdã, Miguel de Cervantes, Luís de Camões e Nicolau Maquiavel.
Renascimento científico
A expansão
dos valores do Renascimento não permitiu somente o desenvolvimento de novas
formas de arte. Alguns estudiosos falam
que o período foi marcado pelo “renascimento científico”, onde vários campos
do conhecimento como a astronomia, a matemática, a física e a medicina
avançaram. A renovação da mentalidade trouxe grande benefício para a ciência,
que passou por inúmeras mudanças. Resgatando o conhecimento construído pelos
pensadores da antiguidade e o comparando a novas descobertas baseadas na
observação, os renascentistas foram dando respostas a inúmeras perguntas e
modificando o entendimento daquilo que até então era tido como verdadeiro e
defendido pela Igreja Católica.
A postura
crítica dos novos cientistas, que colocavam em dúvida o conhecimento e as
tradições medievais, foi essencial para a construção do novo conhecimento. Tudo
aquilo que não podia ser comprovado não deveria ser aceito como verdadeiro. Através
da razão, os homens desse tempo rompiam com o monopólio de conhecimento
exercido pela Igreja ao longo da Idade Média.
Estudos de anatomia humana e a medicina
A preocupação
com o ser humano foi marcante entre os renascentistas. Nesse período
realizaram-se importantes estudos visando um maior conhecimento sobre o corpo
humano. Vários cientistas se dedicaram a saber mais sobre o funcionamento do
corpo humano. Por meio da dissecação de cadáveres, André Vesálio (1514-1564) e Miguel
de Servet (1511-1553) possibilitaram importantes progressos no campo da
anatomia. Ambos foram acusados de heresia pela igreja católica. Ainda no campo da medicina, o suíço Paracelso
(1493 – 1541) comprovou a importância dos estudos químicos para o
desenvolvimento do saber médico.
Novas tecnologias
As grandes navegações que
possibilitaram a “descoberta,” conquista e exploração da América só foram possíveis devido aos avanços tecnológicos. Instrumentos como a bússola e
o astrolábio, o desenvolvimento da cartografia e o aperfeiçoamento de embarcações beneficiaram a expansão
marítima. O aprimoramento da pólvora
permitiu o surgimento das primeiras armas
de fogo e transformou radicalmente a estratégia militar. Além disso, a invenção do relógio mecânico, ainda no século XIV,
foi uma das mais revolucionarias e ilustra bem o novo momento vivido.
Física e Astronomia
Física e Astronomia
Uma das principais teorias
apresentadas durante o Renascimento foi a heliocêntrica,
apresentada por Nicolau Copérnico em
1543. A teoria defendia que o Sol ocupava o centro do universo e negava a
teoria geocêntrica, formulada por
Ptolomeu, que prevaleceu durante a
Idade Média e afirmava que era a Terra que estava no centro do universo. Pela
teoria heliocêntrica é a Terra que gira em torno do Sol.
Mais tarde, Galileu Galilei (1564 – 1642) comprovou essa teoria através de cálculos e do uso de um telescópio desenvolvido por ele mesmo. Galileu também teve importância por formular a lei da queda dos corpos. Outro cientista importante que ajudou a comprovar a teoria de Copérnico foi Johannes Kepler (1571 – 1630). Por ter realizado importantes experimentos relacionados à hidráulica e à hidrostática, Leonardo da Vinci também é apontado como um dos grandes físicos da época.
A repressão da Igreja Católica
Mais tarde, Galileu Galilei (1564 – 1642) comprovou essa teoria através de cálculos e do uso de um telescópio desenvolvido por ele mesmo. Galileu também teve importância por formular a lei da queda dos corpos. Outro cientista importante que ajudou a comprovar a teoria de Copérnico foi Johannes Kepler (1571 – 1630). Por ter realizado importantes experimentos relacionados à hidráulica e à hidrostática, Leonardo da Vinci também é apontado como um dos grandes físicos da época.
A repressão da Igreja Católica
Para a igreja, duvidar da
verdade estabelecida por ela ou estimular a curiosidade por novos conhecimentos
eram atitudes consideradas desrespeitosas e ofensivas. Apesar de discordarem da
Igreja, os renascentistas não eram ateus e nem romperam com a religiosidade que
marcava o período medieval. Mesmo assim, muitos foram acusados de heresia,
considerados inimigos da igreja e duramente perseguidos pelas autoridades
religiosas. O instrumento utilizado pela Igreja Católica foi o Tribunal da
Inquisição. Esse tribunal foi criado no século XIII com a função de garantir que a
doutrina da igreja fosse respeitada e de investigar e punir aqueles que ousaram
não aceitar os conhecimentos defendidos pelas autoridades católicas. Galileu
Galilei, por exemplo, foi acusado de heresia por defender a teoria
heliocêntrica de Copérnico e para livrar-se da morte na fogueira negou
publicamente suas convicções. O filosofo italiano, Giordano Bruno, não teve a
mesma sorte e por defender a ideia de que o universo é infinito foi queimado na
fogueira da inquisição em 1600.
Questões
1) Com suas palavras, diga o que foi o Renascimento.
2) Quais eram as características marcantes do homem do
Renascimento? De que maneira os renascentistas pretendiam construir um novo
conhecimento?
3) Cite e explique os principais valores do movimento
renascentista.
4) Quem eram os mecenas? Por que os artistas e intelectuais
do Renascimento se concentraram nas maiores e mais ricas cidades?
5) Por que o desenvolvimento da imprensa foi tão importante
para o Renascimento?
6) Escreva sobre as diferenças entre os valores medievais e
os valores renascentistas que marcaram o início dos tempos modernos.
7) Ao romperem com a visão que a igreja tinha sobre o mundo
os renascentistas estavam negando a existência de Deus? Justifique a sua resposta.
8) Explique a diferença entre teocentrismo e
antropocentrismo e geocentrismo e heliocentrismo.
9) Quem foi o autor da teoria heliocêntrica? O que ele
afirmava com essa teoria?
10) Por que podemos dizer que as descobertas marítimas estão
profundamente ligadas ao Renascimento?
11) Descreva as
principais características da arte renascentista e cite o nome de alguns
artistas do período.
12) Como e porque a
Igreja Católica reagiu diante das novas ideias divulgadas pelo renascimento?
13) Para você, o renascimento trouxe somente avanços e
prosperidade? Seu valores atingiram a todos? Justifique as suas respostas.
[1] O século XV e XVI é marcado por importantes episódios
que não podem ser compreendidos de forma separada. A conquista da América, a
Reforma Protestante e o Renascimento, portanto, são episódios que se completam.
O Renascimento modificou o modo de pensar, sendo decisivo para a expansão
marítima e para a contestação que a Igreja Católica passou a sofrer, porém, ao
mesmo tempo, tanto as descobertas de novas terras quanto o ataque contra a
Igreja influenciaram a nova maneira de pensar que caracterizou o homem moderno.
[2] A partir dessa visão se criou a falsa ideia de que a
Idade Média foi um período completamente perdido, no qual não ocorreram
avanços. Apesar de ser um período profundamente influenciado pelo poder da
Igreja e marcado pelos constantes conflitos armados, foi durante a Idade Média
que surgiram, por exemplo, as primeiras universidades. Além disso, apesar de retratar a forte
presença religiosa na mentalidade das pessoas, esse período conheceu uma vasta
produção artística com destaque na literatura, na arquitetura, na pintura e na
música. Há inclusive autores que afirmam que o próprio termo Renascimento é
equivocado, já que durante Idade Média os estudos da cultura clássica nunca
foram abandonados.
[3] A Península Itálica foi o principal centro da produção
artística durante o Renascimento e seu auge ocorreu entre 1450 e 1550. Esse
período costuma ser divido em três fases: trecento
(séc. XIV), trocento (séc. XV) e cinquecento (séc. XVI). A partir do
século XVI, convidados por reis, príncipes e outras autoridades, artistas de
diversas áreas passaram a viajar por toda a Europa e a difundir o movimento.
[4] Os renascentistas chamavam de gótico um estilo que
consideravam de mau gosto, exótico e marcado de apelos decorativos e pelo
exagero da altura das suas torres. O estilo gótico caracterizou-se pelas
construções religiosas.
o renascimento foi um movimento com centralização ao homem e permitiu avanços significativos na Europa e no resto do mundo comparativamente a idade media.
ResponderExcluirMuito bom
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