"O passado não reconhece seu lugar: está sempre presente (Mário Quintana)

6.3 - Os povos da Mesopotâmia

As mudanças ocorridas durante o período do Neolítico e durante a chamada Idade dos Metais marcaram a lenta passagem da pré-história para a história. O desenvolvimento da agricultura e da criação de animais, por exemplo, mudou radicalmente a vida do homem e foi decisivo para a formação das primeiras sociedades.  Essas profundas mudanças ocorreram em locais, em épocas e de formas diferentes. Por algumas razões, foi na região da Mesopotâmia[1] que essas transformações foram notadas antes e se desenvolveram, portanto, as primeiras sociedades mais complexas, divididas em classes e não mais comunitárias. 

 Entre os anos de 4.000 a.C e 539 a.C essa região foi ocupada por diferentes povos que estiveram a todo momento em conflito pelas terras mais férteis, próprias para o plantio e para  a criação dos rebanhos. Entre os diversos povos que ao longo do tempo disputaram essas terras devemos destacar: os sumérios, os babilônios, os assírios e os caldeus. Como veremos, nenhum deles se estabeleceu por um longo período na região. 

Localização e condições geográficas da Mesopotâmia


 As terras vizinhas à Mesopotâmia eram caracterizadas, especialmente ao norte, pelos desertos, pela aridez do solo e pelas montanhas. Entretanto, mais ao sul, o território ocupado e disputado pelos mesopotâmios tinha uma característica diferente e fundamental já que se situava entre os rios Tigre e Eufrates, formados entre as montanhas do norte.  Graças às águas desses dois rios e seus afluentes, que transbordavam e tornavam férteis as planícies do sul, os mesopotâmios tinham garantido, além do abastecimento de água, solos favoráveis à agricultura e à criação.[2] 
Foi justamente a fertilidade gerada pelos dois grandes rios que atraiu para essa região diversos povos. A região tornou-se uma espécie de corredor natural que ligava o Ocidente ao Oriente e por ali cruzavam inúmeras migrações fazendo com que várias culturas naturalmente se misturassem. A violência das cheias obrigou os grupos que viviam nas proximidades dos rios a se organizarem para a construção de canais e diques que procuravam amenizar a força das enchentes[3] e garantir o aproveitamento da água para a irrigação. Dessa organização se originaram líderes, as primeiras cidades e a partir delas, reinos e impérios. [4]  

SUMÉRIOS (4000 a.C – 1900 a.C)

Estudos comprovam que desde a era neolítica (7000 a.C) a região era habitada por um povo sedentário. Mais tarde, vindos do leste por volta de 4000 a.C,  os sumérios se estabeleceram na parte sul da região, favorecida pelas enchentes dos rios. Nessa área, aproximadamente no ano de 3500 a.C,os sumérios já haviam fundado dezenas de cidades. Entre as principais podemos destacar: Ur, Uruk, Eridu e Nipur. 
Essas cidades eram chamadas de Cidades-estados”, isto é, tinham uma organização política, econômica e social independente. Assim, cada cidade tinha o seu próprio governante que além de exercer o poder político, exercia também o poder religioso e militar. Esse líder era chamado de patesí
Acredita-se que os sumérios foram os primeiros a desenvolver um sistema de diques e canais para enfrentar as cheias dos rios Tigre e Eufrates e aproveitar as águas. Obviamente, as obras hidráulicas foram fundamentais para a irrigação das plantações e consequentemente para a expansão da agricultura. Além disso, os sumérios merecem destaque pela invenção da roda (primeiros a construir veículos com rodas), pelo desenvolvimento da metalurgia, pela lapidação de pedras preciosas e pela escultura.
Além de se dedicarem a agricultura e a criação de animais, os sumérios também se dedicavam ao comércio, tanto local quanto com cidades mais distantes. Pela necessidade de registrar as trocas comercias e registrar os cereais distribuídos, os sumérios desenvolveram o primeiro tipo de escrita, a escrita cuneiforme.[5] Foi justamente o comércio um dos principais motivos para a grande rivalidade que havia entre as diferentes “cidades-estados". 


 Enfraquecidos devido as lutas internas, os sumérios ficaram vulneráveis contra as invasões.  Por volta de 2300 a.C, as autônomas cidades sumérias foram unificadas e ficaram sob o domínio de Sargão I, rei dos acádios. Por ter unificado as cidades sumérias Sargão I fez surgir o primeiro império da região. Depois de um curto período de paz os acadianos foram dominados pelos amoritas ou babilônios, vindos do leste, que conseguiram dominar toda a região e fundar o Primeiro Império Babilônico. 

BABILÔNIOS (1900 a.C – 1600 a.C):

Após tomarem a região ocupada pelos sumérios, aos poucos os babilônios foram conquistando várias cidades da mesopotâmia. Por volta do ano de 1900 a.C, liderados por Hamurábi, os babilônios formaram o  Primeiro Império da Babilônia, que teve a cidade de Babilônia como capital. A posição central ocupada pela Babilônia na Mesopotâmia favorecia as trocas comerciais e a cidade transformou-se num dos principais centros urbanos e políticos do mundo antigo. Além de ter conquistado e unificado quase toda a região da Mesopotâmia, Hamurábi, mais famoso rei dos babilônios, ficou conhecido também por ser um competente administrador.
Governando com rigor, Hamurábi foi responsável por duas grandes realizações durante seu reinado: construção de grandes reservatórios de água e canais de irrigação que favoreceram o desenvolvimento da agricultura e a elaboração de um conjunto de leis escritas que deveriam ser obedecidas em todo o império. Nesse conjunto de leis, um dos mais antigos da história e que ficou conhecido como Código de Hamurábi,[6] prevaleciam as antigas tradições e costumes dos povos da Mesopotâmia. O código se baseava no princípio de Talião (olho por olho, dente por dente), ou seja, as punições recebidas por uma pessoa eram idênticas aos delitos por ela cometidos.
Aproveitando-se do conhecimento adquirido com os sumérios, os babilônios desenvolveram o calendário e o relógio de sol.  Após a morte de Hamurábi os babilônios tiveram muitas dificuldades para manter o império unido e passaram a sofrer com novas invasões. Por volta de 1600 a.C os babilônios dominados pelos hititas. Os hititas, conhecidos também como povos do mar, apesar de terem aperfeiçoado a fabricação de armas de ferro e de terem desenvolvido carros de guerra mais eficazes, não criaram sociedades duradouras na Mesopotâmia. Em torno de 1200 a.C os hititas foram dominados pelos assírios.


ASSÍRIOS (1200 a.C – 612 a.C):

O assírios ocupavam há muito tempo a região norte da Mesopotâmia. Por muitos séculos vinham sofrendo com os constantes ataques de outros povos e foram obrigados a refugiar-se no alto das montanhas. A forma encontrada pelos assírios para se defenderem foi a organização de um poderoso exército.  Os assírios foram os primeiros a manter um exército permanente que contava com uma forte cavalaria, com carros de combate e armas de ferro. Com um exército muito numeroso e bem equipado, se tornaram temidos em todo o Oriente Médio. Além do mais, o exército assírio ficou conhecido pelo modo cruel como tratavam os vencidos. Conquistaram toda a região da Mesopotâmia e constituíram um vasto império que teve como principais cidades Nínive e Assur.
Por ter construído a “biblioteca” de Nínive e conquistado o Egito, Assurbanipal tornou-se um dos reis mais importantes dos assírios. Com o passar dos séculos, foi justamente a grande extensão territorial do império o maior problema dos assírios que não conseguiam mais controlar os povos conquistados que se revoltavam pelo modo como eram dominados. Com diversos problemas, o poder político e militar dos assírios foi se enfraquecendo até que por volta de 612 a.C acabaram sendo derrotados pelos caldeus.

CALDEUS (612 a.C – 539 a.C):

Nabucodonosor
Ao dominarem os assírios os caldeus impuseram-se sobre toda a Mesopotâmia. Por terem feito da Babilônia novamente a capital da região, alguns estudiosos afirmam que os caldeus fundaram o Segundo Império Babilônico.[7] No império dos caldeus o rei de maior destaque foi Nabucodonosor e durante seu reinado a Babilônia tornou-se o maior centro comercial e cultural da região da Mesopotâmia. Além de ter destruído a cidade de Jerusalém e escravizado o povo hebreu (Cativeiro da Babilônia), Nabucodonosor ficou conhecido pelos grandes investimentos que fez nas obras da cidade, como palácios, templos e muralhas. Nesse período teria mandado construir os Jardins Suspensos da Babilônia e recuperado a Torre de Babel, um zigurate com cerca de cem metros de altura. Os sucessores de Nabuconodosor não tiveram a capacidade de manter a unidade do império que entrou em uma fase de decadência. Os caldeus foram conquistados pelos persas, liderados pelo rei Ciro I








A ORGANIZAÇÃO SOCIAL, POLÍTICA E ECONÔMICA DOS MESOPOTÂMIOS.

Apesar das disputas e das diferenças que existiam entres esses povos, esses também cultivaram algumas características em comum que podem, portanto, serem estudadas em conjunto.

SOCIEDADE: As sociedades mesopotâmicas se dividiam normalmente de acordo com o trabalho. No topo da hierarquia social estava o rei e a classe dominada produzia alimentos para o próprio consumo e entregava o excedente a classe dominante que controlava os templos e os palácios.

Pessoas livres: sacerdotes, grandes proprietários de terra, aristocratas (oficiais do exército e funcionários do governo) e nobres.


Semilivres: Tinham liberdade, mas não podiam possuir terras e eram obrigados a pagar impostos. Eram a maioria: comerciantes, artesãos, camponeses e demais trabalhadores urbanos.


Escravos: prisioneiros de guerra ou pessoas que não pagavam suas dívidas. Eram a minoria entre os trabalhadores.

POLÍTICA: Nas sociedades mesopotâmicas o rei, considerado um representante dos deuses na Terra e concentrava o poder militar, político e religioso. O rei era auxiliado por uma série de funcionários, sacerdotes e ministros e governava em nome das diversas divindades. O rei tinha a obrigação de garantir a defesa do território e a prosperidade econômica.

ECONOMIA: A base da economia dos mesopotâmicos era a agricultura. Para isso eram fundamentais os canais de irrigação e a organização do governo. O comércio também tinha grande importância. Os mesopotâmicos desenvolveram a tecelagem, o artesanato, a cerâmica e a fabricação de joias. De terras mais distantes chegavam produtos que faltavam na Mesopotâmia como marfim, cobre e madeira. Na mesopotâmia surgiu o empréstimo a juro e o metal passou a ser usado como moeda.

RELIGIÃO: A vida na Mesopotâmia foi muito influenciada pela religião. Os povos mesopotâmicos eram politeístas, isto é, acreditavam em vários deuses. Esses deuses poderiam fazer tanto o bem quanto o mal e na maioria das vezes representavam elementos da natureza como o vento, a água e o sol. A construção de zigurates, espécie de pirâmides que serviam de ponte que deixava os deuses mais próximos da terra, era comum entre os mesopotâmicos.
eram

                                                                                      O legado deixado pelos mesopotâmicos

Podemos encontrar em nossa cultura muitos elementos desenvolvidos pelos mesopotâmicos. Como por exemplo:

- a divisão do ano e dos dias da semana e do dia (12 meses, 7 dias e 24 horas).
- Astronomia (distinguiram os planetas das estrelas);
- Astrologia (influência dos astros na vida do homem)
- Habito de fazer o plantio de acordo com as fases da lua.
- Operações matemáticas. 
- Arquitetura.








Vídeo
Grandes civilizações - Mesopotâmia



Questões

1)      Escreva sobre as características geográficas da Mesopotâmia.
2)      Escreva sobre a importância dos rios Tigre e Eufrates para os povos mesopotâmicos.
3)      Durante muito tempo a região da Mesopotâmia atraiu diversos povos. Por que aquela região foi tão disputada durante a antiguidade?
4)      Explique por que podemos dizer que as cidades fundadas pelos sumérios eram independentes entre si? Explique.
5)      Qual foi o motivo que levou os sumérios a entrarem em decadência?
6)      A partir de que necessidades os sumérios desenvolveram a escrita? Como era essa escrita?
7)      Por que motivos Hamurabi ficou na história como o maior rei dos babilônios?
8)      Com suas palavras, explique o funcionamento do Código de Hamurabi.
9)      Por que razões os assírios tiveram grande destaque na arte militar?
10)   Explique o enfraquecimento dos assírios.
11)   Que razões fizeram de Nabucodonosor o principal rei dos caldeus durante o Segundo Império Babilônico?
12)   Como os mesopotâmicos estavam divididos socialmente? Explique a realidade de cada grupo social.
13)   Com suas palavras descreva a economia e a política dos mesopotâmicos. 
14)   Quais são os principais aspectos culturais que herdamos nos mesopotâmicos?



[1] A Mesopotâmia correspondia ao atual Oriente Médio (onde atualmente se localiza o Iraque, parte da Síria, da Turquia e do Kuwait). A região se localiza entre os rios Tigre e Eufrates, por isso, Mesopotâmia, como foi batizada pelos antigos a região, significa “terra entre rios”. Foi a primeira região do Planeta a se urbanizar. 

[2]  As grandes cheias dos rios ao mesmo tempo em que representavam um grande significavam a salvação dos mesopotâmios. Quando o nível das águas voltava ao normal ficava sobre a terra uma rica camada de húmus e de limo que tornava a terra própria para a produção agrícola. As cheias dos rios Tigre e Eufrates não eram tão regulares quanto as cheias do Nilo.

[3] DEBATE: Quais são as consequências das enchentes hoje em dia? Como atualmente a sociedade se comporta diante das enchentes?

[4] Reino: unidade política governada por um rei; Império: na Antiguidade, era geralmente um conjunto de cidades ou regiões subordinadas ao governante da cidade mais poderosa. 

[5] Essa escrita recebeu o nome de cuneiforme por que seus sinais tinha forma de cunha (ferramenta triangular). Os registros normalmente eram feitos em uma placa de argila mole e nesse sistema cada sinal representava um objetivo ou um significado. A invenção dos sumérios foi utilizada ou adaptada por outros povos. A escrita cuneiforme serviu de base para outros sistemas de escrita. 


[6] O Código de Hamurábi foi um dos primeiros códigos de leis de escritas da história da humanidade. As punições eram muito severas. Exemplos: um homem que furasse o olho de outro homem, teria seu olho furado; se um construtor construísse uma casa e ela caísse matando o seu proprietário, esse construtor seria morto; um ladrão teria suas mãos cortadas. O código foi gravado em uma pedra de mais de dois metros de altura e foi encontrado em 1902 por arqueólogos franceses. Atualmente se encontra no museu do Louvre, em Paris.

[7] O novo império também ficou conhecido como Império Caldeu.

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