O rio Nilo, o deserto e as
primeiras comunidades agrícolas.
Arqueólogos
afirmam que a região do vale do rio Nilo já era habitada por grupos humanos
desde cerca de 8000 a.C. Esses grupos eram seminômades e sobreviviam da caça,
da pesca e da coleta. Por volta de 5000 a.C, ao desenvolverem a agricultura, e
graças a fertilidade trazida pelo rio Nilo[1], foram
surgindo naquela região as primeiras comunidades sedentárias. Numa faixa de 6
Km de extensão de cada lado do rio formaram-se as primeiras aldeias, chamadas
de nomos. Essas comunidades eram autônomas, ou seja, independentes umas
da outras. O desenvolvimento da agricultura só foi possível graças ao rio Nilo
e ao modo como os egípcios aproveitavam suas águas. Apesar de o deserto em
torno dessas áreas impor algumas dificuldades, servia também como uma proteção
natural que dificultava o ataque de inimigos.
Na época
das cheias as margens eram inundadas e quando o rio retornava ao nível normal o
solo estava fértil e próprio para o cultivo. Porém, somente a cheia do rio não
garantiria o desenvolvimento dos egípcios naquela região. Adaptando as
condições da natureza com às suas necessidades, construíram canais de
irrigação para levar as águas até terras mais afastadas e ampliar assim as
áreas de cultivo, diques para armazenar água para os períodos de seca e barragens
para conter ás águas e proteger os núcleos urbanos das cheias mais fortes.
O poder político
Com o
aumento da população e da produção de excedentes surgiram alguns problemas que
precisavam ser solucionados. Quem controlaria estoques armazenados? Quem seria
responsável pelas trocas, construção de canais de irrigação e diques? Quem
garantiria a defesa contra povos invasores? Para isso, surgiu o governo,
inicialmente na figura de um monarca (líder do nomo) que passou a
liderar a comunidade. Em 3500 a.C vários nomos, sob uma liderança única,
formaram o reino no Baixo Egito e o mesmo ocorreu com os nomos do sul
que formaram o reino do Alto Egito. Por volta de 3200 a.C o chefe do Alto
Egito, chamado Menés, teria unificado os dois reinos e se tornado
o primeiro faraó.
Depois da unificação do Egito, por volta de 3200 a.C, 26 dinastias
sucederam-se no poder até o Império ser conquistado pelos persas. A longa
história do Egito Antigo costuma ser dividida por estudiosos em três períodos:
Antigo Império (3200 a.C – 2000 a.C):
período em que ocorreu a unificação das diversas comunidades que se formavam
nas proximidades do rio Nilo, foram construídas obras de drenagem e canais de
irrigação que permitiram o desenvolvimento agrícola. Foram erguidas grandes
pirâmides dos faraós Queóps, Quéfren e Miquerinos.[3] Alguns
nobres senhores de terra se mostraram insatisfeitos com o poder total acumulado
pelo faraó e algumas revoltas e disputas políticas tiveram início. Além do
enfraquecimento do poder político do Estado, o período também é marcado
problemas climáticos, fome e epidemias.
Médio Império (2000 a.C – 1580 a.C ):
Os faraós voltaram a concentrar todo o poder político e a capital
passou a ser Tebas. O período foi marcado por conquistas de novos territórios e
por prosperidade econômica. Apesar disso, crises na política fragilizaram o império
que em de 1750 a.C foi invadido pelos hicsos,povo vindo da Ásia e que dominou o
Egito por cerca de 170 anos.
Novo Império (1580 a.C – 525 a.C ):
comandados pelo faraó Amósis I, os egípcios conseguiram expulsar os invasores e Tebas
retomou a condição de capital do Egito. Através de conquistas militares as
fronteiras do Império foram ampliadas ainda mais nesse período. O esplendor era
percebido em diversas e grandiosas construções. Intensificou-se o comércio com
a Ásia, mesmo assim surgiram disputas políticas entre nobres, militares e
sacerdotes.
Após a morte do faraó Ramsés
II o estado egípcio entrou em fase de decadência. Os sacerdotes passaram a
acumular riquezas foi aumentada a carga tributária sobre os camponeses que se
revoltaram em várias ocasiões. Em 670 a.C o Egito foi invadido pelos assírios.
Apesar de terem conseguido expulsar os invasores, os egípcios não tinham mais
condições de resistir a outros inimigos.
Em 525 a.C os persas dominaram o Egito que foi transformada em uma
província do Império Persa.
A sociedade no Egito Antigo era dividida em grupos de acordo com o poder, trabalho ou funções sociais
desempenhadas. A principal característica dessa sociedade era a concentração de
poder e riqueza pela minoria e pela situação de pobreza da maioria da
população. Pela ordem, as posições mais privilegiadas eram:
FARAÓ e sua família: o faraó
exercia os poderes administrativos, militares e religiosos, era dono da maior
parte das terras e podia ter várias mulheres, o que fazia a sua família ser
numerosa.
SACERDOTES: eram encarregados
de administrar os templos e organizar as cerimônias e festas religiosas. Recebiam tributos e não pagavam impostos.
FUNCIONÁRIOS DO GOVERNO e NOBRES: o
faraó contava com o auxílio de vários funcionários. O vizir
criava impostos, controlava a administração e o tribunal de justiça e
fiscalizava as obras públicas. O escribas
cobravam impostos, fiscalizavam as contas, registravam a quantidade de
impostos recolhidos e de alimento estocado e faziam a contagem da
população. Nesse grupo também estão os chefes
militares.
CAMPONESES: a maior parte da
população era formada pelos camponeses, chamados de félas. Viviam
da agricultura, da criação de animais, da pesca e do artesanato. Normalmente
cultivavam nas terras do faraó ou dos nobres.
Entregavam parte da produção como pagamento de impostos , eram
convocados para trabalhar nas obras públicas
e serviam o exército nas campanhas militares.
ESCRAVOS: geralmente eram
prisioneiros de guerra. Trabalhavam em minas e pedreiras e também realizavam
trabalhos domésticos.
A economia no Egito Antigo
A agricultura
foi a atividade econômica mais importante durante o Egito Antigo. Graças as
terras naturalmente preparadas pelas cheias e ao aos canais de irrigação, os
egípcio tinham garantido a fertilidade do solo e o desenvolvimento agrícola. Os
camponeses cultivavam trigo, cevada, ervilha, lentilha, verduras, frutas,
legumes, algodão, linho e papiro (planta que cresciam em grande
quantidade às margens do rio e com a qual fabricavam cestos, sandálias, velas
para as embarcações e uma espécie de papel usada para escrita). A criação
de animais (porcos, carneiros, bois, gansos – após a invasão dos
hicsos, cavalos), a pesca e a caça também
foram atividades importantes.
Além disso,
o artesanato teve grande importância. Haviam vários tipos de
artesões, como tecelões, barqueiros e cervejeiros outros que fabricavam armas e
artigos considerados de luxo, como o vidro. Haviam também os que se
especializavam na mumificação de corpos, decoração de túmulos, pintura e
esculturas de pedra e madeira. Os escultores geralmente trabalhavam em templos
e palácios. Por fim, a economia também dependeu muito das atividades
comerciais, tanto as internas quanto as realizadas com outras civilizações.
Em alguns momentos o comércio com outros povos foi bastante intenso. Entre
outras coisas, de regiões mais distantes traziam madeira, que não era
encontrada em quantidade suficiente no Egito. Ainda não existia uma moeda e prevalecia o sistema de troca de mercadorias de valor igual.
No Egito, o
trabalho era explorado pela minoria e as atividades eram controladas pelo
Estado que organizava a construção dos sistemas de irrigação , armazenava
alimentos para as épocas de crise e cobrava tributos. O
sustento da minoria que dominava a sociedade egípcia era garantido com a
cobrança de tributos e a apropriação da produção agrícola. O pagamento, em
alguns casos poderia ser feito através de prestação de serviços. Não existia no
Egito a noção de propriedade privada já que o faraó era considerado
proprietário de quase todas as terras.
RELIGIÃO
Os egípcios
eram politeístas,
ou seja, acreditavam em mais de um deus. Além disso, acreditavam na
imortalidade da alma, no juízo final e no retorno da alma ao mesmo corpo. Por
essa razão os egípcios aperfeiçoaram a técnica de mumificação, que tinha como
objetivo garantir a conservação do corpo até o retorno de sua alma. A religião desempenhou um importante papel no
padrão cultural dos egípcios e a adoração de diversos deuses esteve presente
em quase tudo. Muitas vezes os deuses e os mortos recebiam mais atenção dos
que os vivos. As chuvas, o dia
e a noite e as fases da lua, que hoje são cientificamente explicadas, eram
atribuídas à religião e aos deuses.
Os deuses
podiam ser representados em formas humana ou animal (boi, crocodilo, gato e o
falcão) e em boa parte das vezes eram representados de forma mista. Ao longo
dos milênios a representação de alguns deuses se modificaram e por isso a mesma
divindade pode aparecer, algumas vezes, como um animal; outras vezes como
humana.
Na crença
egípcia, de acordo com o Livro dos Mortos a vida eterna só seria conquistada
por quem tivesse sido justo em vida. O deus responsável por julgar os mortos e
decidir se a alma iria ou não para o paraíso era Osíris. Na grande maioria dos
povoados havia um templo ou capela construída em sua homenagem. Outro deus importante
era Amon-Rá, considerado o rei dos deuses e responsável pelo surgimento da
vida. Seu maior símbolo era o sol.
ESCRITA
Foram
desenvolvidos três tipos de escrita no Egito Antigo. A mais famosa são os hieróglifos, conjunto
de símbolos, que mais tarde evoluiu para o hierático, mais cursivo, e
depois para o demótico, quando a civilização egípcia passou a ter mais
contato com a cultura grega e romana. Os hieróglifos enfeitavam túmulos,
lápides e paredes de palácios, portanto tiveram um papel monumental e
religioso. Era um tipo de escrita difícil, criptográfica e usada pela elite
como instrumento de poder.
Os
responsáveis pela arte da escrita eram os escribas, homens que dentro da
sociedade egípcia ocupavam posto privilegiado. Além de registrar os acontecimentos
do Império Egípcio, trabalhavam como arquivistas, copistas, contadores ou
secretários. Documentos pessoais do faraó também eram de responsabilidade do
escriba. Muitas vezes, os documentos produzidos retratavam o cotidiano dos
egípcios e seu modo de vida.
A escrita
egípcia foi usada por milênios e deixou de ser usada a partir do momento em que
o alfabeto grego passou a ter influência e a ser usado no Egito.[4] Em
desuso, os hieróglifos se tornaram indecifráveis e muito da história do Egito
Antigo permaneceu desconhecida. Muitos estudiosos se empenharam por décadas
para decifrar a escrita utilizada pelos egípcios. Em 1799 houve um grande
avanço na tradução dos hieróglifos quando franceses, em uma expedição militar
no Egito, encontraram uma grande pedra – Pedra Roseta
– contendo o mesmo texto em três sistemas de escrita diferentes: hieróglifo, demótico
e grego. Comparando as três versões, foi possível encontrar o significado dos
hieróglifos e assim decifrar outros textos.
ARTES: pintura e escultura
As artes no
Egito Antigo estavam muito relacionadas com a vida religiosa e nesse aspecto
destacam-se as pinturas e esculturas. Grande parte das pinturas eram
feitas nas paredes das pirâmides e retratavam a vida dos faraós, as ações dos
deuses, a vida após a morte entre outros temas da vida religiosa. Geralmente essas
pinturas e esculturas vinham acompanhadas de inscrições hieroglíficas que
explicavam as cenas ou figuras ali representadas.
Quando os seres humanos eram
retratados, apareciam sempre com o rosto, as pernas e pés de perfil e o tronco
de frente, por determinação dos sacerdotes. As tintas eram obtidas na natureza
(pó de minérios, substâncias orgânicas, etc). As esculturas eram feitas
primeiramente com o objetivo de substituir alguém que acabara de morrer e as
primeiras eram sempre feitas de barro. Conforme a sociedade egípcia foi se desenvolvendo,
foi possível trabalhar com metais, como ouro, cobre e outros. Eram produzidos
além de esculturas, sarcófagos (túmulo em que os antigos
colocavam os cadáveres que não eram cremados) eram feitos de madeira
ou pedra e possuíam a feição dos mortos, para facilitar o trabalho de
reconhecimento da alma em seu possível retorno após a morte.
Os SABERES CIÊNTIFICOS
medicina,
astronomia e matemática
Uma das
principais marcas culturais da civilização egípcia é o desenvolvimento em medicina. Algumas fontes descrevem
cirurgias, o engessamento de membros com ossos quebrados, o uso de anestésicos
e mesmo conhecimento sobre o sistema circulatório do corpo humano. Como vimos,
essa particularidade esta muito ligada á religião. Ao contrário de outros povos
da antiguidade, os egípcios acreditavam em reencarnação, ou seja, na vida
eterna ou volta dos mortos. Por essa crença desenvolveram a técnica da
mumificação, pela qual, através de complicados procedimentos químicos e físicos
procuravam preservar os corpos que seriam sepultados. Nesse processo retiravam
de forma cirúrgica alguns órgãos internos, que eram separados uns dos outros.
Foi desse modo que os egípcios passaram a conhecer o interior do corpo humano
de uma forma inédita até então. Já havia médicos que se especializavam em
cuidar dos olhos, dos dentes, da cabeça e de outras partes do corpo. O avanço
da medicina dos egípcios foi tanto que ganhou fama até entre povos vizinhos. Junto
com o desenvolvimento da medicina esteve o desenvolvimento da química. Os egípcios manipularam
substâncias que deram origem a diversos remédios e composições.
A ciência no Egito Antigo:
Dependentes
das cheias do Nilo, o povo do Egito teve que se empenhar muito para saber em
que épocas elas aconteceriam para assim poderem aproveitar ao máximo os
benefícios trazidos pelas águas. Observando os astros, fizeram mapas do céu e
agruparam estrelas em constelações. Foi assim que os egípcios desenvolveram a astronomia. Desses estudos veio a organização de um calendário para determinar o
início da cheia e das vazantes do rio Nilo. Pelo calendário egípcio, o ano tinha
365 dias, dividido em 12 meses de 30 dias e mais 5 dias festivos depois das
colheitas. Para os egípcios haviam três estações no ano: cheia, inverno e
verão.
Com a
necessidade de registrar transações comercias e administrar os bens públicos,
os egípcios tiveram que padronizar o sistema de medidas. Com a necessidade de
registrar transações comerciais, demarcar as propriedades, construir os
fundamentais canais de irrigação ou outras grandes obras arquitetônicas, como
templos e pirâmides, os egípcios também tiveram grande importância no
desenvolvimento da matemática e na geometria.
QUESTÕES:
1) A civilização egípcia se desenvolveu no
nordeste do continente africano em uma região cercada pelo deserto, mas marcada
também pela existência do importante rio Nilo. De que modo os egípcios
aproveitaram-se do Nilo? Porque, apesar de impor dificuldades, o deserto também
era considerado um aliado dessa civilização?
2) Por volta de 3200 a.C teria ocorrido a
unificação dos diferentes reinos da região do Nilo e surgido assim o primeiro
faraó. Escreva sobre os poderes exercidos pelo faraó e diga quem eram e que
funções desempenhavam os funcionários que o auxiliavam.
3) A história do Egito Antigo costuma ser
dividida em três fases. Diga como é essa divisão e cite ao menos um
acontecimento que marcou cada uma dessas fases.
4) A sociedade egípcia na antiguidade foi
essencialmente marcada pela desigualdade e pela exploração. Descreva a divisão
e organização dessa sociedade destacando cada um dos grupos que a formavam.
5) Escreva sobre as principais atividades
econômicas desenvolvidas pelos egípcios.
6) A cultura egípcia foi muito influenciada
pela religião, porém, para solucionara problemas do dia a dia desenvolveram
vários outros aspectos. Faça uma breve pesquisa e apresente algumas
curiosidades sobre:
a) vida religiosa b) medicina c) escrita
d) pintura e arquitetura
[1] O Nilo é o rio mais extenso do mundo. Situado no nordeste do continente africano, sua nascente está a sul da linha do Equador e sua foz ocorre no mar Mediterrâneo. A sua bacia hidrográfica ocupa uma área de 3 349 000 km², abrangendo Uganda, Tanzânia, Ruanda, Quénia, República Democrática do Congo, Burundi, Sudão, Sudão do Sul, Etiópia e Egito. A partir da sua fonte mais remota, situada no "Nyungwe National Park" do Rwanda, o Nilo tem um comprimento de 7 088 km.
[2] Para o povo o faraó mais do que ser um rei era um deus encarnado. Os egípcios acreditavam que durante a vida ele era o deus sol (HÓRUS / RÁ) e depois de morto era identificado como OSÍRIS, o deus dos mortos e da ressurreição. O poder do faraó era hereditário, ou seja, passava de pai para filho. Em 3000 anos teriam existido 33 dinastias no Egito Antigo.
[3] Para os egípcios, a pirâmide representava os raios do Sol, brilhando em direção à Terra. Todas as pirâmides do Egito foram construídas na margem oeste do Nilo, na direção do sol poente. Os egípcios acreditavam que, enterrando seu rei numa pirâmide, ele se elevaria e se juntaria ao sol, tomando o seu lugar de direito com os deuses. As Pirâmides de Gizé não eram consideradas estruturas isoladas mas integradas num complexo arquitetônico. Foram encontradas cerca de 100 pirâmides no Egito mas a maior parte delas estão reduzidas a pequenos montes de terra.Para se colocar em pé as três pirâmides, calcula-se que cerca de 30 mil egípcios trabalharam durante 20 anos, e a cada três meses havia uma troca de homens. Uma grande parte trabalhava no corte e transporte de blocos de pedras. Porém, não havia somente trabalhadores braçais, mas também arquitetos, médicos, padeiros e cervejeiros, pois se acredita que os homens que ali trabalhavam eram pagos com cerveja e alimentos, apesar das várias polêmicas existentes.
[4] A presença dos gregos no Egito Antigo ocorre no momento em que Alexandre, rei da Macedônia, conquistou a região.
Muito bom o seu blog
ResponderExcluirNão encontrei oque procurava
ResponderExcluirMais dá para aprender bastante sobre história
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